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Suicídio – precisamos falar sobre

MUNDIAL:

Segundo o relatório acerca do suicídio, publicado em 2021 pela Organização Mundial da Saúde, que reflete os dados coletados em 2019, mais de 700 mil pessoas morreram de suicídio. O número ultrapassou as mortes por HIV. Sendo a quarta maior causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos. Os dados fizeram com que a organização lembrasse os países a intensificar os esforços para a prevenção do atentado à própria vida.


BRASIL:

De acordo com o boletim epidemiológico acerca da temática, divulgado pelo Ministério da Saúde, 13.523 pessoas morreram de suicídio em 2019 no país. O número, que representa aumento de 43% em relação ao ano de 2010, assusta pelas crescentes ocorrências de um fenômeno para o qual existe prevenção. O Portal RP50, em compromisso com a temática de interesse público, recolheu informações com especialistas e serviços da capital piauiense para relembrar da importância da prevenção fora do setembro amarelo.


Neste ranking, o Piauí aparece como o terceiro estado do Brasil com maior índice, tendo registrado 11,6 a cada 100 mil habitantes, sobrepondo a taxa nacional do mesmo ano, que foi de 6,6 (por 100 mil habitantes).


PIAUÍ:

Nos últimos 3 anos, segundo os dados gerais sobre o suicídio disponibilizados no site da Secretaria de Saúde do Piauí (Sesapi), o estado registrou 871 casos. Deste número, 708 são homens. O fator que causa preocupação é explicado por uma contribuição cultural, social e estrutural.



De acordo a psicóloga Mariane Siqueira, especializada em suicidologia, o suicídio não é um fator isolado, atrelado a um esteriótipo de uma pessoa triste e solitária, mas sim cercado de diversas facetas que precisam ser debatidas:

Precisamos entender a dimensão do que de fato ele é, um fenômeno social, que acontece por variadas situações, não existe uma causa única ou um perfil de suicida. Tem todo um contexto histórico e social que leva a pessoa até a situação drástica. Assim, aderindo a reeducação e entendendo estes fatores, partimos para a prevenção”.

Para a especialista, que trabalha na Universidade Estadual do Piauí há cerca de 10 anos, os fatores socioeconômicos e culturais fazem com que, diversas vezes, pessoas comuns sem vícios ou transtornos psicológicos, pensem não haver uma saída de seus problemas e cheguem a pensar na morte como uma possibilidade de cessar o sofrimento. Fatores estes que contribuem com o alto índice de suicídio entre os homens, por exemplo.

“A cultura é um dos fatores de risco. Por conta da educação de uma sociedade machista que impõe sobre os homens essa carga de não poder falar, não poder chorar, ele tem que ser o provedor e não poder demonstrar fraqueza faz com que ele demore a identificar que precisa de ajuda e também a buscar esse apoio. Outro fator é que os homens possuem mais ferramentas para tentar contra a própria saúde, também devido à estrutura patriarcal”.

Entendendo estes fatores, é necessário responsabilidade e empatia diante das mais diversas situações a qual as pessoas passam no seu cotidiano, sejam elas: dificuldades financeiras, rompimento de relações etc. Mariane Siqueira explica, que muitas vezes, o indivíduos com idealizações e tendência, podem encobrir os seus problemas para não passar por situações de julgamento, mas ainda assim hábitos comportamentais podem ser notados, são estes:

  • perda de interesse pelo que antes gostava

  • reclusão social ou afastamento, mesmo de familiares

  • diminuição de atividades sociais

  • falas com idealização de automutilação ou morte

Demais fatores intrínsecos à estrutura social brasileira também contribuem com o isolamento sentimental. Em um texto publicado pela página do Instagram “Para preto ler”, com 97 mil seguidores, que aborda temas de Saúde mental; Psicologia; Escrevivências,

idealizada por Bárbara Borges e Francinai Gomes, traz as perspectivas do racismo como fator de isolamento.

Segundo as autoras, a comunidade negra e periférica, muitas vezes focada na sobrevivência, reprimem as demandas emocionais de forma intimista através das gerações de modo que o indivíduo produza o isolamento. “É comum à nossa comunidade o medo de incomodar. Talvez porque muitos de nós tivemos mães e pais ocupados demais com o sustento da casa e aparentemente pouco sensíveis às nossas demandas emocionais. Assim, a máxima de “não dar trabalho” navega por gerações e foi internalizada de tal maneira que não apenas reconhecemos como também produzimos o isolamento”.

Em 2022, ainda segundo dados da Sesapi, a capital do estado se destaca tendo o maior número dentre os outros municípios, em seguida aparecem Parnaíba e Oeiras, respectivamente. Casos que cercam os cidadãos da capital, como o do ex-prefeito prefeito Firmino Filho, precisam, devido aos números, ser noticiados com segurança.

FIRMINO FILHO E A MÍDIA:


Ex-prefeito de Teresina, Firmino Filho

Diariamente vemos veículos de comunicação noticiar casos de suicídio dando a entender, sugerindo nas entrelinhas que a ocorrência pode ter sido “acidente” ou “homicídio”, quando os noticiantes já sabem se tratar de atentado contra a própria vida. É uma prática que, quem é da Imprensa, não tem como negar que existe, mesmo que isso não contribua em nada com o debate aqui proposto. Logo depois, o caso é abandonado. Não se fala mais. Porém, para não deixar uma ocorrência, uma matéria a mais no plantão, o jornalista, muitas vezes induzido pela direção do veículo, usa deste artifício e publica.

A morte através do suícidio de uma figura pública foi o ponto de partida de muita especulação popular e midiatização de diversos meios. Firmino Filho, ex-prefeito de Teresina, foi a óbito no dia 06 de abril do ano de 2021, aos seus 57 anos. Passando por 4 mandatos (1996; 2000; 2012 e 2020) era contemplado como bom gestor pela população teresinense. Diante da situação, com que devidos cuidados o jornalismo poderia repassar o ocorrido, sem agredir o luto familiar e de todos os seus admiradores, além de tratar de forma segura o fenômeno do suicídio? Também fizemos esta pergunta à psicóloga.

Em entrevista, Mariane Siqueira também aborda o papel da mídia diante dos casos: “Noticiar com segurança e de maneira educativa. Existe uma legislação sim, de que precisamos ter cuidado e não repassar imagens grotescas que não trazem o respeito às vítimas ou a família. Mas é interessante sim, noticiar de maneira que previna e eduque a população de como ajudar as outras pessoas e ter mais empatia. E noticiar que existem serviços com profissionais para pessoas que estão passando por estes problemas emocionais, disponíveis para todos, antes de que aconteça. Noticiar com responsabilidade”.

Diante do caso do ex-prefeito, a Polícia investigativa e a grande mídia piauiense, sobretudo portais de notícias, que precisavam de forma imediata noticiar o caso, aderiram ao sigilo, que por mais que de forma intencional procurava afagar o impacto do fenômeno, seja por respeito a entes mais próximos ou pelo próprio tabu, isso permitiu a criação de um espaço propício para que o público especulasse levianamente formas, causas e até mesmo motivações sobre a morte do gestor. Fator esse que agride bem mais a família, aqueles que estão no luto ou até mesmo indivíduos em vulnerabilidade emocional do que a própria noticiabilidade do fato em si.

Em 2021, o Portal Polícia Dinâmica, que tem a frente o jornalista Marcos Melo foi o único a divulgar o resultado do inquérito que apurou a morte de Firmino. Clique aqui e confira.

Ainda de acordo com a suicidologa, existem pesquisas no ramo da psicologia, que declaram que quando 1 pessoa tira a própria vida, cerca de 150 outros indivíduos são impactados pelo sentimento de luto e culpa.

Geralmente essa influência é chamada de “efeito werther”, uma alusão ao livro “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, de Goethe, que foi lançado em 1774 e a ele é atribuída uma onda de suicídios na Europa naquele fim de século. Dessa forma, além de noticiar, é preciso se distanciar de tabus e apegar-se aos especialistas e na compreensão do fenômeno, para então alertar e prevenir.


EXEMPLOS

Em países como o Reino Unido e o Japão a tensão criada pelos crescentes números de suicídio, provocou a reação governamental da criação de um ministério voltado somente a temáticas psicológicas. O Ministério da Solidão atua com o intuito da criação de políticas públicas para a diminuição da solidão e dos problemas provocados por ela, convidando a população a olhar e refletir sobre as temáticas emocionais de tal maneira que seja feita a prevenção de atitudes drásticas.


PREVENÇÃO AO SUICÍDIO E PROGRAMAS ESPECIALIZADOS:

PROVIDA:


Foto: Sesapi

Tem como principal objetivo atender a comunidade de forma gratuita, de maneira interdisciplinar, de valorização a vida e prevenção ao suicídio. O ambulatório especializado atende desde adolescentes a partir dos 13 anos a adultos e idosos e está localizado em frente a praça da Liberdade, região Centro – Sul de Teresina.

Em conversa com a assistente social do programa, Franciana Beleense, o Portal RP50 obteve dados e explicações acerca da procura diária da população e de como ocorre o processo de atendimento.

Diariamente são atendidas cerca de 40 pessoas, incluindo pacientes que vêm do interior à procura dos serviços. Atuando nos turnos da manhã (8h às 12h) e tarde (14h às 18h) com equipe técnica de 3 psicólogos e 1 psiquiatra em cada turno.

Segundo Franciana, não há um tempo determinante em que o paciente possa utilizar o serviço, mas o acompanhamento é feito a partir das demandas e do quadro em que o usuário se encontra. “ Somos um atendimento porta aberta, mas é importante lembrar que a evolução do paciente também depende dele, uma vez que ele faça o que está sendo proposto nas terapias e/ou tomando os medicamentos”.

Além do atendimento com os profissionais da psicologia, a assistente social ressalta a importância do mapeamento do contexto no qual o paciente está inserido, para então propor atividades que possam sobrepor um período doloroso ou de solidão, como por exemplo grupos comunitários de apoio, oficinas etc. Franciana entende a situação da saúde mental no estado do Piauí como grave a partir do que vivência no programa:

“Quando atendemos por exemplo crianças de apenas 13 anos que possuem idealizações suicidas e vamos a fundo, vemos que nesse fenômeno são acarretadas negligências familiares, sociais e estatais. É preciso buscar um olhar prioritário para as políticas públicas. Por que quando essas políticas conseguem ter uma eficácia , demandas que são atendidas por nós poderiam ter sido resolvidas e não ter chegado a esse ponto (da idealização do suicidio)”

Além do foco nas políticas públicas, a profissional do Pró-vida também ressalta a importancia de ampliar a rede de atendimento para o interior do estado. “ É preciso investir em redes de atendimento especializadas nos demais municípios. Nós atendemos aqui pessoas que se desgastam no trajeto, às vezes permanecem fora do conforto de casa, da rede de apoio familiar e ficam em alojamentos aqui em Teresina, isso para pessoas que estão recebendo tratamento pode complicar”.

Assim como as demais demandas da Saúde Pública a ampliação, incentivo e investimento na prevenção ao sicídio, salva vidas.

  1. CVV: Centro de Valorização da Vida – 188

Linha direta de emergência para pessoas em situação de angústia emocional e idealizações suicidas. Crido em São Paulo no ano de 1962 e atualmente atuando de forma sigilosa e gratuita em todo o Brasil, a ONG é um dos principais meios de prevenção aos suicidio no país.

Os serviços são ofertados também por meio de chat, o acesso pode ser feito através do site : https://www.cvv.org.br/

  1. Caps: locais e contato

Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas-CAPS AD

Endereço: Rua Quintino Bocaiúva,2978 – Bairro Macaúba-Teresina/PI CEP 64016-060.

Fone: 3215-7762

CAPS Infantil – CAPSi

Centro de Atenção Psicossocial Infantil

Endereço: Rua Coronel Cezar,1566. Bairro: Morada do Sol-Teresina/PI CEP 64055-645

Fone: (86) 3223-9661

CAPS Tipo II- Sul

Endereço: Av. Barão de Gurguéia ,2913. Bairro Pio XII-Teresina/PI CEP 64018500

Telefone: (86) 3218-4865

CAPS Tipo II-Leste

Endereço: Rua Visconde da Parnaíba, 2435. Bairro Horto Florestal-Teresina/PI CEP 64049570.

Telefone: (86) 3216-3967

CAPS Tipo II-Sudeste

Endereço: Rua Poncion Caldas, Bairro Colorado – Loteamento Parque do Sol – Renascença (ao lado da U.B.S Redonda)

Telefone: (86) 3236-8747

CAPS Tipo II-Centro/Norte

Endereço: Rua Presidente Lincoln, 4727, Bairro São Joaquim

Telefone: (86) 3213-2080

CAPS Tipo III-Sul

Endereço: Rua Costa Rica, 466. Bairro Três Andares- Teresina/PI CEP 64016380

Telefone: (86) 3221-6422 / 3221-0092

Todos os CAPS atendem das 8h às 11h30, das 14h às 17h, de segunda a sexta-feira.

SERVIÇO RESIDENCIAL TERAPÊUTICO TIPO II

Endereço: Rua Climério Bento Gonçalves,705, Bairro São Pedro – Zona Sul –Teresina/PI CEP 64019400

Telefone: (86) 32221-4472

Atendimento com moradia para pessoas com transtorno mental e sem assistência familiar.


Por Millena Araújo

FONTE : RP50


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